Escuta os gritos

de Paris.

Os gritos de quem agoniza

no chão.

Escuta os tiros

como gritos

de quem atira

– e os escuta também.

Escuta o grito

aterrorizado

de um mundo

que anseia por se sentir

seguro.

Escuta os gritos

do outro mundo,

que comemora

o sangue,

e que grita por algo

também.

Escuta os gritos

que não se

ouvem,

das vítimas e algozes

em lugares que não se vê.

Sem a mídia

como megafone,

eles gritam baixo

– mas, ainda assim,

gritam também.

Escuta os gritos

Marianos,

Diamantinos,

de rios, peixes e pessoas,

e tantos outros seres.

Gritos que ficam

invisíveis

quando só escutamos

os gritos de Paris.

Mas escuta os gritos

de Paris também,

Pois escuta não se

escolhe

– só se amplia –

quando escolhemos

não “o nosso”,

e sim

“o bem”.

Escuta o grito de

raiva,

medo,

preguiça,

sonhos,

que vem de

Dentro.

Pois é ele quem

ressoa

com o grito de

alguém.

Escuta e acolhe

esse grito profundo,

que lá fora,

transformado,

ele grita

a compaixão

que não se cala,

não se curva,

nem se vinga,

mas grita,

com coragem

o silêncio pacífico

que abençoa

o mundo.